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30/05/2019
“Somos membros uns dos outros” (Ef 4,25)
A cada ano, no dia 24 de janeiro, a Igreja celebra a memória litúrgica de São Francisco de Sales. Nessa data, o papa divulga a mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado na Solenidade da Ascensão de Jesus. Neste ano de 2019, o tema central dessa mensagem é “‘Somos membros uns dos outros’ (Ef 4,25): das comunidades de redes sociais à comunidade humana”. Desejo, com este texto, oferecer uma síntese das palavras do Santo Padre, que tem como eixo três expressões por ele usadas: “as metáforas da ‘rede’ e da ‘comunidade’”, “somos membros uns dos outros” e “do ‘like’ ao ‘amém’”.
O desejo de comunicar-se, presente na vida do ser humano, está fundado, em última instância, na sua vocação à comunhão. O papa mesmo diz: “Em virtude de termos sido criados à imagem e semelhança de Deus, que é comunhão e comunicação-de-Si, trazemos sempre no coração a nostalgia de viver em comunhão, de pertencer a uma comunidade”. Criados à imagem e semelhança de Deus, que é Uno e Trino e, por isso, mistério de comunicação e comunhão, os homens são chamados a comunicarem-se, não só no nível da troca das ideias, mas na própria comunicação de si mesmos, que é o que gera comunhão e constrói a vida em comunidade. As “redes sociais” são, neste sentido, uma espécie de concretização virtual da comunidade humana. Apesar disso, as relações nesse ambiente não são isentas de ambiguidades.
A superação do risco imposto por essa ambiguidade, que levaria a destruir e não construir comunhão, depende, fundamentalmente, da nossa capacidade de nos entendermos como membros uns dos outros. Somos parte da mesma comunidade de homens e, portanto, chamados a superar a lógica do egoísmo e irmos ao encontro dos irmãos, preocupados sinceramente com o bem do outro e concretizando essa preocupação na procura de relações que até podem usar os ambientes virtuais, mas que não fazem deles um substitutivo do encontro pessoal e do olhar nos olhos. Como afirma o papa Francisco, “o panorama atual convida-nos, a todos nós, a investir nas relações, a afirmar – também na rede e através da rede – o caráter interpessoal da nossa humanidade”.
Esse modo de usarmos das redes sociais pode nos levar então a superar a procura de nós mesmos, simbolizada na linguagem virtual pela quantidade de “like” recebida, e passarmos para a construção da comunhão interpessoal construída, sobretudo, pela Eucaristia, quando comungamos o mesmo Corpo do Senhor que, além de nos unir a Ele, nos une em comunhão. Na celebração eucarística, o “like” é substituído pelo “amém” de quem deseja viver e promover a comunhão com Deus e com os irmãos e não somente estar conectado virtualmente com os demais. Assim, como afirma o papa, a rede passa a ser usada “não para capturar, mas para libertar, para preservar uma comunhão de pessoas livres”.
Dom Washington Cruz, CP
Arcebispo Metropolitano de Goiânia
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