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06/03/2018
Dia Internacional da Mulher
Elas crescerem em direitos , mas lutam agora pela própria vida
Caminhos para superar a violência contra as mulheres
Há 108 anos era instituída, no dia 8 de março, uma data especial para homenagear as mulheres de todo o mundo, de modo especial, encampando a luta das mulheres pelo direito ao voto. O Dia, porém, só passou a ser celebrado em 1975, durante o Ano Internacional da Mulher. Naquela época, a luta delas era por direito ao voto, igualdade de direitos trabalhistas, melhores condições de trabalho.
Passadas várias décadas, elas continuam a lutar. Mas agora, as mulheres lutam principalmente pelo direito de viver. Dados mostram que estamos regredindo humanamente quando o assunto é a mulher. No ano em que a Igreja no Brasil traz como tema da Campanha da Fraternidade, “Fraternidade e superação da violência”, e o lema, “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8), precisamos refletir sobre a violência contra a mulher. E isso precisa partir do seio familiar, pois esse é o ambiente propício para criar uma outra cultura, desde cedo, em nossas crianças.
Dados
O texto-base da Campanha da Fraternidade, material que pode ser adquirido a preço acessível em qualquer livraria católica, traz em seu primeiro capítulo, o tema As vítimas da violência no Brasil contemporâneo, em que a violência doméstica e a violência contra mulheres têm destaque. Os números são lamentáveis e exigem da Igreja e da sociedade como um todo, atitudes para a superação dessas violências.
Respeito
Apesar desses tristes dados, é importante a busca pela superação da violência contra as mulheres. De acordo com o padre Luiz Henrique Brandão de Figueiredo, doutor em Teologia Moral e formador do Seminário São João Paulo II, a família tem um importante papel na formação de homens cristãos, sobretudo para que aprendam a respeitar as mulheres desde cedo. “São Paulo afirma, na carta aos Efésios (5, 22.25), ‘as mulheres sejam submissas aos maridos como ao Senhor. (...) Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo também amou a Igreja e se entregou por ela’”. Segundo o padre, a leitura fala da submissão da esposa ao seu esposo e, em contrapartida, exige que ele dê a sua vida por ela. “Sendo assim, podemos falar, na verdade, de uma mútua submissão no amor, isto é, os dois devem estar a serviço um do outro e dos filhos, partindo daquilo que lhes é próprio”.
A leitura de Efésios é profunda e ensina ainda, conforme padre Luiz Henrique, que a verdadeira masculinidade não se trata de poder opressor, mas de força de serviço que cuida e protege a esposa e os filhos. “Promovendo nas famílias essa compreensão da missão masculina do pai, como ministério de amor que doa a vida pela esposa e pelos filhos e permitindo que tal missão seja vivida sem ser ofuscada, as famílias educarão os homens para olharem com amor as mulheres, com o desejo de cuidar delas e de protegê-las e, os filhos homens, observando seu pai, aprenderão que às mulheres se deve o amor e o cuidado e não a violência”.
Padre Luiz Henrique salienta que, embora a violência contra a mulher aumente a cada ano, a Igreja tem um importante papel na mudança dessa situação. O fundamental de acordo com ele, é não buscar superar a violência com mais violência. “A violência contra qualquer pessoa deve ser seriamente combatida. O desejo de combater a violência contra a mulher deu origem, nos últimos tempos, à assim chamada 3ª onda do feminismo, iniciada na década de 1990, também chamada de feminismo de gênero. Esse movimento acabou por criar um feminismo radical que produziu ideias extremamente deletérias para as famílias, em nome de proteger as mulheres”, destacou. Ele pontuou ainda que, diante disso, a melhor contribuição da Igreja é “lembrar ao homem e à mulher a caridade que deve ser vivida entre eles, que se desdobra na vivência harmoniosa da mútua submissão no amor, ensinada por São Paulo na mencionada carta aos Efésios. Se cada um assumir com amor a missão que lhe é própria na família e no mundo, toda forma de violência é superada. Mas isso exige conversão de todos”, concluiu.
Passos para a superação da violência
A Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) mantém, desde 1992, o Programa Interdisciplinar da Mulher Estudos e Pesquisas (PIMEP), que está inserido na coordenação de extensão e faz parte do Programa de Direitos Humanos da universidade. O programa se propõe a desenvolver ações como pesquisas, projetos de extensão, grupos de estudos, seminários, parcerias com outras organizações civis e governamentais, com foco nas questões da mulher, gênero e feminismos. As ações são orientadas pelo desejo de transformação e eliminação da desigualdade social, sobretudo no combate da desigualdade de gênero. O programa busca fortalecer ainda os movimentos de mulheres, afirmando seu caráter político e social.
A coordenadora do programa e psicóloga, Luciene Falcão, destaca que no Brasil, apesar de várias leis e instituições que amparam a mulher nesse aspecto, as mulheres ainda sentem medo, insegurança, vergonha e há o desconhecimento sobre a busca de ajuda legal e emocional. Ela enfatiza que, legalmente, as mulheres têm como suporte a Lei 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, que se fundamenta em normas diretivas consagradas na Constituição Federal e tem como finalidade a eliminação de todo tipo de forma violenta contra a mulher, seja ela física e/ou emocional. A Lei busca ainda a preservação da saúde física e mental, independentemente de classe, raça, etnia ou orientação sexual. Para superar a violência, porém, Luciene ressalta que é importante o entendimento do significado de masculinidade. “Os homens são agentes importantes na transformação. Se faz necessária a compreensão a respeito de si próprios, especialmente no nível das emoções. É necessária a discussão sobre ‘as masculinidades’ para a preservação de problemas sérios, como a violência doméstica e o assédio”.
Transformação pela fé
No Santuário Sagrada Família, na Vila Canaã, em Goiânia, existe desde 2016, o Grupo Mulheres Santas, cuja missão é prestar apoio espiritual a mulheres de todas as idades e promover acompanhamento espiritual quando necessário. Flávia Ribeiro Barros, coordenadora do grupo, disse, em entrevista, que o trabalho tem sido importante para a superação da violência contra mulheres que, segundo ela, são vítimas principalmente de violência moral. “São muitas as mulheres feridas emocionalmente que buscam o resgate da autoestima. Nosso papel é fazer com que elas se sintam amadas por Deus e acolhidas na comunidade”. Flávia comentou também que muitas dessas mulheres frequentam o grupo escondidas dos seus maridos. Outras ainda são vítimas de seus próprios filhos.
Para participar, basta se dirigir ao Santuário, todas as terças-feiras, às 15h. Os encontros acontecem até às 17h. Mais informações na Secretaria do Santuário, pelo número (62) 3942-4267 ou com a própria Flávia Ribeiro: 99258-7570.
Fúlvio Costa
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