A ALEGRIA QUE BROTA DA CRUZ

“Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais, vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações” (Is 66,10-11). A antífona de entrada do Quarto Domingo da Quaresma dá o tom alegre desta liturgia. Celebramos a alegria que brota da Cruz do Senhor, através da qual Ele nos conquistou a salvação. Salvação que é aplicada a cada um de nós mediante o dom da fé que recebemos no Batismo e que nos configura a Ele.

Três elementos ressaltam aos nossos olhos nesse trecho que lemos, do diálogo do Senhor com Nicodemos: a iniciativa gratuita do amor misericordioso de Deus, manifestado na Cruz do Senhor Jesus; a fé que nos une a Cristo como condição para a vida eterna; e que se manifesta nas ações realizadas em Deus, iluminadas pela verdade. Vejamos o Evangelho: “[...] é necessário que o Filho do homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,14-16). Mais ao final do Evangelho lemos: “[...] quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus” (Jo 3,21).

Na Segunda Leitura encontramos os mesmos elementos, uma vez que o Apóstolo viveu o caminho proposto por Jesus e dá testemunho desse caminho. Primeiro, ele testemunha o amor de Deus, quer partilhar a vida eterna conosco: “Deus é rico em misericórdia. Por causa do grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo. É por graça que vós sois salvos! Deus nos ressuscitou com Cristo e nos fez sentar nos céus, em virtude da nossa união com Cristo” (Ef 2,4-6). Segundo, ele dá testemunho da fé como resposta ao amor de Deus: “[...] é pela graça que sois salvos mediante a fé” (Ef 2,8a). E em terceiro lugar, dá testemunho das boas obras como manifestação concreta da nossa transformação em Cristo, que ele mesmo experimentou: “[...] nós fomos criados em Jesus Cristo para as obras boas, que Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos” (Ef 2,10).

Em resumo: Deus, que nos ama gratuitamente, espera como resposta ao seu amor a fé na entrega total de seu Filho, que transforma nossas ações. E não tem ação melhor para Deus que a penitência, a busca pela conversão do coração. Santo Agostinho, comentando esse trecho, diz: “O princípio das boas obras é confessar as más: assim, tu te pões na verdade, a qual não te envaidece nem te dá por desculpado [...] A água do mar [que simbolizam nossas más obras] a entrar no navio pouco a pouco, a menos que seja escoada, termina por afundá-lo. E em que consiste este escoar, senão a prática das boas obras, na penitência, no jejum, na esmola e no perdão [...]” (In Ioannem, tract. 12).

Já estamos do meio para o fim da Quaresma. Não esmoreçamos nas nossas práticas quaresmais, meus irmãos. Permaneçamos firmes e veremos toda a nossa vida remida pelo Senhor; todas as nossas obras, transformadas por Cristo para a nossa salvação. Nada podemos sozinhos, e a nossa alegria só se encontra nEle. Assim, a alegria que está velada na Cruz, cheia de esperança, será confirmada na Ressurreição. Peçamos a Virgem Maria que interceda por nós para que o Senhor aumente a nossa fé, firme nossa esperança e abrase a nossa caridade.

Leituras: 2Cr 36,14-16.19-23 / Sl 136(137),1-2.3.4-5.6 (R. 6a) / Ef 2,4-10 / Jo 3,14-21

Murillo Cota Ferreira

Seminarista da Etapa Configurativa, da Arquidiocese de Goiânia

Seminário Maior Interdiocesano São João Maria Vianney – Goiânia-GO