Moisés: Uma escultura fúnebre

Localizada em Roma, a Basílica de São Pedro Acorrentado é de arquitetura e ornamentos simples. E é assim denominada por abrigar sobre o altar-mor o relicário com as correntes nas quais São Pedro foi preso em Jerusalém.

O fiel também encontrará, na nave lateral à direita do presbitério, o mausoléu do Papa Júlio II, que abriga uma das obras primas de Michelangelo e do renascimento, a impressionante escultura em mármore de 2,33m de altura, o Moisés.

O historiador de arte, Janson H.W., descreveu: “O majestoso Moisés, ideado para ser visto de baixo, tem a força temerosa e que os contemporâneos do artista chamavam terribilità, um conceito criado pelos românticos de sublime”. Essa afirmação vai ao encontro do relato de que finalizado o trabalho, o artista, diante da beleza de sua criação vivenciou um momento de alucinação que o levou a bater com o martelo na escultura e dizer: “Por que não falas?”.

Ao apreciarmos a grandiosa estátua, executada com tanta beleza e perfeição, percebemos que, sobre a cabeça de Moisés, entre seus cabelos há um par de chifres. A explicação encontra-se na tradução Vulgata, dos textos bíblicos, realizadas por São Jerônimo, do hebraico para o latim. Especificamente no versículo de Ex 34,29, que descreve Moisés descendo do monte Sinai com as tábuas da lei e que seu rosto estava brilhante (karan). Para traduzir o texto, São Jerônimo se equivocou e usou a palavra-conceito keren, que no latim significa chifres. Mas é fato, há uma concordância de que o termo foi utilizado com a conotação de brilhante, reluzente, resplandece ao rosto de Moisés em seu encontro com o Senhor.

A escultura de Moisés era a peça principal e é a única que ficou pronta do projeto original do mausoléu, idealizado por Michelangelo, que propunha 40 esculturas. O que apreciamos hoje creditam aos seus discípulos a conclusão e é muito mais singelo.

Fabiana Longhi
Arquiteta Especialista em Espaço Litúrgico e Arte Sacra
Longhi arquitetura – Arquitetura do Sagrado