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11/03/2020
A Espiritualidade da Quaresma

O tempo da Quaresma é um tempo privilegiado para a conversão do coração e das nossas ações, pois só acolheremos a relação profunda com Cristo se ouvirmos a sua voz, vivendo de maneira humilde, no despojamento e na pobreza, obedecendo à sua Palavra e testemunhando Jesus em todas as situações de nossa vida. O jejum, a esmola e a oração são meios eficazes para nos ajudar nesse caminho.
A oração constitui uma abertura para Deus. É um sim para o Criador, é um louvor, é estar conforme a vontade divina. Todos nós, pelo Batismo, fomos chamados (vocacionados) por Deus à santidade e só podemos realizar plenamente nossa vocação cristã, em comunhão íntima de vida com Deus presente, na oração. Por isso, na Quaresma, a Igreja convoca todos os fiéis ao exercício da oração. Sigamos o exemplo de Cristo que, no íntimo do coração, sempre rezava ao Pai.
O exercício quaresmal da esmola leva o cristão a se relacionar com o próximo carente, necessitado de atenção, de cuidados e de carinho, (“viu e teve compaixão”), leva-o a exercitar a caridade, uma virtude teologal. Dar esmola é dar de graça, dar sem interesse de receber de volta; é deixar o egoísmo de lado, é não esperar recompensa. É reconhecer que tudo o que temos e que somos vem de Deus, recebemos de graça. Por isso, de graça devemos dar, devemos colocar nossos dons a serviço. Dando esmola, imitamos aquele que por excelência exerceu a esmola: Jesus Cristo. Dar esmola é abrir-se ao próximo, é servir ao irmão com generosidade; é desprender-se dos bens materiais, é reconhecer no outro a imagem e semelhança do Criador. Nesse sentido, a esmola é doação gratuita não somente de bens materiais, mas de tempo, de interesse, de acolhimento, de serviço, de aceitação, de amor. A esmola nos remete à generosidade de Cristo que deu a sua vida, por amor, derramou seu sangue pela humanidade carente da graça.
Se a oração nos leva ao relacionamento íntimo com Deus e a esmola nos relaciona com o próximo, o que dizer do jejum? O exercício quaresmal do jejum vale não só pelo que é, mas pelo que significa. A determinação de não comer nem beber liberta o cristão da tendência de apoderar-se das coisas. Liberta-o da escravidão do ter mais, do querer ser. Jejuar é abster-se de um pouco de comida, de bebida, de palavras fúteis e agressivas, quer levar o ser humano ao correto relacionamento com o seu Criador, com o seu semelhante e com toda a criação. Jejuar é respeitar a natureza criada, é abrir espaço para Deus e não estar em busca de satisfazer apenas nossos extintos desregrados. No jejum, a Igreja nos lembra de que Jesus, logo após o seu batismo, jejuou quarenta dias no deserto numa atitude de liberdade e de domínio sobre si mesmo, sobre a natureza e sobre o mal. Como Igreja, somos o prolongamento de Cristo, somos seu corpo e seus membros, por isso, como Cristo, somos chamados a ser livres e não escravos de nossos caprichos e pecados. Desse modo, o jejum é um verdadeiro exercício de conversão que não pode ficar esquecido.
Não somos escravos do pecado, mas filhos amados e esperados por Deus, para oferecer-nos a sua graça e salvação. Deus ama-nos com um amor incondicional e esse amor nos levanta das nossas fraquezas e nos faz vencer nossos próprios limites e caminhar para uma vida plena. Com sua graça, dá-nos sempre uma nova chance.
Queridos irmãos e irmãs, sigamos os meios que a Igreja nos propõe para este tempo. Por intercessão de Maria, percorramos com Cristo o mesmo caminho de amor total que ele percorreu.
Ir. Clébia de Jesus Caixeta
Instituto Coração de Jesus (ICJ)
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