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23/04/2018
Não tenhamos medo de Ser Santos!
A Santidade é o caminho posto a todos os Cristãos

O papa Francisco acaba de lançar sua terceira Exortação Apostólica e sobre ela, como nas demais exortações, podemos dizer algo muito confortante: embora apresente um conteúdo denso, se sobressai uma linguagem de fácil entendimento, pois seu objetivo é atingir todo o povo de Deus nos rincões mais distantes onde a Igreja está presente. Gaudete et Exsultate (Alegrai-vos e Exultai), tirada do Evangelho de Mateus 5,12, é a nova exortação pontifícia sobre o chamado à santidade no mundo atual.
A primeira impressão sobre o documento que nos vem é que Francisco fala somente dos santos canonizados, dignos dos altares. Sim, fala deles também, mas não para exaltar para si mesmos a dignidade desses cristãos que viveram exemplarmente o Evangelho. Seu objetivo final são os fiéis, beneficiários e destinatários da santidade. Trata-se, portanto, da proposição, sempre renovada, do ideal de santidade, mesmo em meio às dificuldades do tempo presente.
Não há limite para o buscar constante da santidade. Ser santo é ser grande aos olhos de Deus, conforme o papa Francisco. “O Senhor quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa” (cf. GE, 1). A busca da santidade é um caminho que, na exortação, o papa diz que é inseparável da construção do Reino: “procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt 6,33). A santidade, pois, requer adesão total a Cristo: “Não te santificarás sem te entregares de corpo e alma, dando o melhor de ti neste compromisso” (GE, 25). O contrário disso resulta também em um caminho oposto ao da santidade. “Um compromisso movido pela ansiedade, o orgulho, a necessidade de aparecer e dominar, certamente, não será santificador. O desafio é viver de tal forma a própria doação, que os esforços tenham um sentido evangélico e nos identifiquem cada vez mais com Jesus Cristo”. (GE, 28)
A seguir, apresentamos alguns trechos da nova exortação. Um ponto crucial do texto se faz importante mencionar: Francisco nos conduz a uma santidade que está impregnada em nossas vidas. Não em atos grandiosos, mas em situações simples do cotidiano, da vida em família, no trabalho, na igreja, nas comunidades. Enfim, em nossas ações que transformam vidas.
Objetivo humilde e grandioso
Não se deve esperar aqui um tratado sobre a santidade, com muitas definições e distinções que poderiam enriquecer esse tema importante ou com análises que se poderiam fazer acerca dos meios de santificação. O meu objetivo é humilde: fazer ressoar mais uma vez o chamado à santidade, procurando encarná-la no contexto atual, com os seus riscos, desafios e oportunidades, porque o Senhor escolheu cada um de nós “para ser santo e irrepreensível na sua presença, no amor”. (cf. Ef 1,4) e (GE, 2)
Santidade é para Todos
Não pensemos apenas em quantos já estão beatificados ou canonizados. O Espírito Santo derrama a santidade, por toda a parte, no santo povo fiel de Deus, porque aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente. (GE, 6)
Vida Cotidiana
Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham afim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nesta constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade “ao pé da porta”, daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus. (GE, 7)
Atitudes que Santificam
Esta santidade, a que o Senhor te chama, irá crescendo com pequenos gestos. Por exemplo, uma senhora vai ao mercado fazer as compras, encontra uma vizinha, começam a falar e… surgem as críticas. Mas esta mulher diz para consigo: “Não! Não falarei mal de ninguém”. Isso é um passo rumo à santidade. Depois, em casa, o seu filho reclama a atenção dela para falar das suas fantasias e ela, embora cansada, senta-se ao seu lado e escuta com paciência e carinho. Trata-se doutra oferta que santifica. Ou então atravessa um momento de angústia, mas se lembra do amor da Virgem Maria, pega no terço e reza com fé. Esse é outro caminho de santidade. Noutra ocasião, segue pela estrada afora, encontra um pobre e detém-se a conversar carinhosamente com ele. É mais um passo. (GE 16)
Sal da Terra e Luz do Mundo
Cada cristão, quanto mais se santifica, tanto mais fecundo se torna para o mundo. Assim nos ensinaram os bispos da África ocidental: “Somos chamados, no espírito da nova evangelização, a ser evangelizados e a evangelizar através da promoção de todos os batizados para que assumam as suas tarefas como sal da terra e luz do mundo, onde quer que se encontrem. (GE, 33)
Caridade leva à Santidade
Graças a Deus, ao longo da história da Igreja, ficou bem claro que aquilo que mede a perfeição das pessoas é o seu grau de caridade, e não a quantidade de dados e conhecimentos que possam acumular. (GE, 37)
Palavra de Deus motiva a Santidade
No contexto atual, somos chamados a viver o caminho de iluminação espiritual que nos apresentava o profeta Isaías quando, interrogando-se sobre o que agrada a Deus, respondia: é “repartir o teu pão com os esfomeados, dar abrigo aos infelizes sem casa, atender e vestir os nus e não desprezar o teu irmão. Então, a tua luz surgirá como a aurora”. (58,7-8) e (GE, 103)
Doar- se para Santificar-se
Quem deseja verdadeiramente dar glória a Deus com a sua vida, quem realmente quer se santificar para que a sua existência glorifique o Santo, é chamado a obstinar-se, gastar-se e cansar-se procurando viver as obras de misericórdia. (GE, 107)
Meios de Santificação
Os diferentes métodos de oração, os sacramentos inestimáveis da Eucaristia e da Reconciliação, a oferta de sacrifícios, as várias formas de devoção, a direção espiritual e muitos outros. (GE, 110)
Santificação em Comunidade
A santificação é um caminho comunitário, que se deve fazer dois a dois. Reflexo disso temo-lo em algumas comunidades santas. Em várias ocasiões, a Igreja canonizou comunidades inteiras, que viveram heroicamente o Evangelho ou ofereceram a Deus a vida de todos os seus membros. (GE, 141)
A Oração Santifica
A santidade é feita da abertura habitual à transcendência, que se expressa na oração e na adoração. O santo é uma pessoa com espírito orante, que tem necessidade de comunicar com Deus. É alguém que não suporta asfixiar-se na imanência fechada deste mundo e, no meio dos seus esforços e serviços, suspira por Deus, sai de si erguendo louvores e alarga os seus confins na contemplação do Senhor. Não acredito na santidade sem oração. (GE, 147)
Santidade pressupõe Vigilância
O caminho da santidade é uma fonte de paz e alegria que o Espírito nos dá, mas, ao mesmo tempo, exige que estejamos com “as lâmpadas acesas” (cf. Lc 12,35) e permaneçamos vigilantes: “afastai-vos de toda a espécie de mal” (1 Ts 5, 22); “vigiai” (Mt 24,42; cf. Mc 13,35); não adormeçamos (cf. 1Ts 5,6). (GE, 164)
Fúlvio Costa