Você está em:
20/11/2020
Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo
“O meu reino não é deste mundo” (Jo 18,36)

Chegamos ao fim de mais um Ano Litúrgico e com ele celebramos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. Mas de qual reinado estamos falando? Para falar sobre esse assunto e explicá-lo, entrevistamos irmã Idê Maria da Cunha, FIC, especialista em liturgia que, atualmente, trabalha na Pastoral Litúrgica da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no Balneário Meia Ponte, em Goiânia.
O título Cristo, Rei do Universo, segundo a religiosa, não é muito comum na linguagem dos Evangelhos. Irmã Idê Maria ressalta, ainda, que é um título audacioso, uma vez que a tendência é, de imediato, imaginá-lo como um rei semelhante aos reis e reinos deste mundo e atribuir-lhe trono, cetro, coroa e poder, como normalmente vem representado em diversas imagens, ocultando a sua principal identidade: o amor serviçal.
O Reino inaugurado na pessoa de Jesus Cristo é o Reino da justiça, da verdade e do amor. “Qualquer conotação que o título tenha com o poder e com as pompas, esvazia a mensagem de Jesus. Uma coroa de ouro na cabeça, um cetro brilhante nas mãos, um manto tecido de brocados e pedras preciosas, é tão degradante quanto a coroa de espinhos e a cana que os soldados colocaram em suas mãos no momento do seu julgamento”, explicou irmã Idê. O reinado de Cristo Senhor consiste na tríade amor-compaixão-misericórdia.
No interrogatório de Pilatos (Jo 18,33b-37), Jesus deixa claro que seu reino não é deste mundo. “Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui.” Pilatos, ao perguntar se Jesus é rei, recebe uma resposta positiva. “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta minha voz”. Irmã Idê Maria disse que, à luz do texto de São João, nesse interrogatório, diante do poder violento e corrupto de Pilatos, Jesus, açoitado e coroado de espinhos, se mostra sereno e revela a plena humanidade de um Rei sem reino; um rei das nações de exilados, do povo sem lar, dos desamparados, que prefere o poder do amor ao poder da força e da violência. “O título de rei dado a Jesus não tem qualquer semelhança com aquilo que identifica os reinados de sua época e que ainda perduram até hoje: o poder, as pompas, a supremacia, a corrupção, a violência...”.
A entrevistada afirma que somos tentados a comparar o reinado de Cristo com os reinos deste mundo, mas Jesus, nos Evangelhos, usa parábolas muito simples para falar sobre o Reino de Deus. Uma delas é a do Grão de Mostarda em Mateus (13,31,32). “Embora a semente seja minúscula, ela cresce até se tornar um arbusto frondoso. Essa parábola é um lembrete para que não caiamos na tentação de olhar as coisas com os olhos da sociedade dominante, que valoriza muito a prepotência, o poder, a aparência externa”. Outra passagem que nos ajuda a compreender a identidade de Jesus e para que Ele veio é a cena do lava-pés (Jo 13,1-15). “Eu não vim para ser servido, mas para servir...” (Mc 10,45)”.
“Jesus é Rei servidor, que se coloca a serviço dos desfavorecidos, sem poder, sem glória, sem pompas… o seu reinado aparece e transparece no serviço, no lava-pés”, ressalta a religiosa.
Viver a realeza de Cristo no cotidiano
O Evangelho que lemos neste domingo (Mt 25,31-46) nos ajuda a compreender a realeza de Cristo a partir do discurso escatológico de Jesus, denominado como juízo final. O Evangelho acentua a vigilância como atitude de espera da chegada do Reino. Essa vigilância implica na vivência do amor, da justiça, da verdade, da solidariedade, do cuidado para com os pobres e excluídos, características essas que identificam o Reino anunciado por Jesus nas bem-aventuranças: “Eu estava com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar” (Mt 25,35-36).
Nisto consiste a realeza cristã: sermos chamados, por Jesus, de “Benditos do meu Pai!” recebermos a bênção que Deus prometeu à Abraão e à sua descendência (Gn 12,3), sermos convidados a tomar posse do Reino... por termos acolhido o próprio Jesus na pessoa dos irmãos e irmãs necessitados e desprotegidos. O amor concreto em prol dos que sofrem é o caminho de encontro com o Senhor e de participação no Reino definitivo, de vida e plenitude para todos.
O que há de mais sério na vida do ser humano e que pode levá-lo à privação da vida em plenitude é a omissão, a indiferença ao sofrimento do próximo, a carência de ações praticadas em favor dos menos favorecidos.
Neste domingo lembramos, também, o Dia dos Cristãos Leigos e Leigas. Neste ano, o tema proposto pelo Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB) é “Cristãos leigos e leigas: testemunho e profecia a serviço da vida” e o lema “Eu vos chamei a serviço da justiça” (Is 42,6). Irmã Idê salienta que os leigos e leigas são todos os batizados que recebem, pelo batismo, a realeza, a profecia e o sacerdócio de Cristo.
A religiosa conclui dizendo que: “Encerrar o Ano Litúrgico com a Solenidade de Cristo Rei é consagrar a Ele o mundo inteiro no desejo de que Ele conduza a história à plena realização, reunindo o universo inteiro, tanto as coisas celestes como as terrestres, numa só cabeça, Cristo (Ef 1,10), Alfa e Ômega, princípio e fim de todas as coisas (Ap 22,12-13)”.
Esta máteria que você acabou de ler, foi matéria de capa do Jornal Encontro Semana, clique aqui e confira a edição 340 completa.
Fúlvio Costa