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21/08/2017
Vocação acertada, vida feliz
Somos vocacionados à santidade
Na história da salvação, desde a criação, os seres humanos possuem uma vocação. Como diz Santo Inácio, em seus exercícios espirituais, “o ser humano é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus nosso Senhor e, assim, salvar-se” (EE 23).Portanto, antes de todas as outras, a primeira vocação do ser humano é a vida, é a existência que lhe foi dada por Deus. A própria palavra “vocação” provém de raízes latinas, significando “chamar”, ou seja, alguém que ouve para realizar alguma coisa.Desse modo, no decorrer de sua existência e auxiliado pela graça divina, a pessoa percebe que pode fazer na sua vida e da sua vida uma manifestação de Deus neste mundo. Assim sendo, opta por uma vocação mais específica, pela qual pode servir a Deus e aos irmãos.
O Concílio Vaticano II ressalta que todos os cristãos, independentemente de seu estado de vida, são vocacionados à santidade. Isso vem de encontro àquela ideia que perdurou durante anos na Igreja, de que a santidade é algo que pode ser alcançado somente por clérigos ou religiosos, e na qual as portas eram totalmente fechadas aos leigos e casados.Ser vocacionado à santidade não é ser um cristão ranzinza, “tapa do”, alheio do mundo ou puritano, mas, é ser, na verdade, alguém que, apesar de suas fraquezas, faz a diferença no mundo, vive uma vida diferente no meio do mundo, com todas as suas cargas culturais e sociais. Em uma palavra, santo são todos os cristãos que assumem tudo aquilo que compete a esse nome, e, assim, iluminam as muitas trevas que ainda possam existir ao redor deles.
Neste mês de agosto, como é costume da Igreja no Brasil, refletimos e celebramos as vocações que são vividas pelos cristãos, conforme vários estados de vida. Seja a vida laical, a matrimonial, a celibatária, a sacerdotal ou a vida religiosa consagrada, cada pessoa vive e exerce um papel neste mundo. Vale salientar que vocação tem tudo a ver com felicidade, e, portanto, uma vocação mal escolhida ou mal vivida reflete-se em todos os âmbitos da vida. Habitualmente se diz: “Vocação acertada, vida feliz”. Essa afirmação possui toda veracidade, pois se o ser humano caminha em busca da felicidade, aquilo que ele realiza em sua vida contribui para que essa felicidade seja alcançada.
“Ser vocacionado à santidade é ser alguém que, apesar de suas fraquezas, faz a diferença no mundo”
Ao longo do mês, em cada domingo se propõe celebrar, agradecer e pedir a Deus por cada uma das vocações chamadas específicas. No primeiro domingo, é lembrada a vocação sacerdotal, vocação daqueles que optaram por servir a Deus e ao povo como ministros de Cristo. No segundo domingo, lembramos da vocação matrimonial, vivida por aqueles que constituíram uma família e fazem de seus lares pequenas igrejas domésticas, onde deve reinar o amor, a compaixão, o diálogo e a fé. O terceiro domingo é dedicado às vocações religiosas, pessoas que decidiram radicalizar seu batismo e se consagraram a Deus fazendo votos de viver em castidade, pobreza e obediência, se dedicando à missão da Igreja. E, no último domingo, todos os fiéis leigos são lembrados, pois são o fermento e a luz presentes de forma direta no mundo, e assim são chamados a santificar todos os ambientes onde estiverem inseridos.
Todas as vocações são importantes. Cada uma, na sua especificidade, contribui para que o Evangelho de Cristo “seja pregado a todas as criaturas”. É como a imagem apresentada pelo apóstolo Paulo, do corpo e seus membros, se há a falta de um membro que seja, apesar de ser muito pequeno, o corpo já não é totalmente são. Do mesmo modo, a Igreja, corpo místico de Cristo, é formada por diversos membros que, vivendo suas vocações, continuam a obra da salvação de Jesus Cristo. Eis a beleza da diversidade da Igreja que a faz una.
Finalizo parafraseando o papa Bento XVI, que, dirigindo-se aos jovens, lembrou-lhes de não sentirem medo, pois Deus não nos tira nada, pelo contrário, nos dá tudo. Rezemos, de maneira especial neste mês, por tantos jovens que ainda hoje ouvem a voz de Deus, que lhes chama a abraçar uma vocação. Que eles não tenham medo de dar ouvidos a essa voz divina e corajosamente estejam abertos à vontade de Deus. Quando o medo e as inquietações surgirem diante das propostas vocacionais, lembremo-nos que Deus chama quem Ele quer, capacita os escolhidos e oferece uma vida e felicidade plenas. Como Maria, nos basta dizer e viver: “Eis aqui a serva (ou o servo) do Senhor. Faça-se em mim segundo a sua vontade!”.
Frater Marcos Paulo Nascimento, C.Ss.R
(Missionário Redentorista)
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