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06/01/2023

Espiritualidade do Descanso

Espiritualidade do Descanso - Vida Cristã - Arquidiocese de Goiânia

“Tudo tem seu tempo.” É assim que começa o capítulo três de Eclesiastes e até o versículo oitavo nos oferece a dinâmica insondável da vida. Se para cada coisa debaixo do céu há um momento oportuno (cf. v. 2), podemos inferir que há um tempo para trabalhar e um tempo para descansar. Janeiro é um mês em que, tradicionalmente, as pessoas entram em ritmo de férias. Isso se deve, grandemente, por ser o período do descanso escolar e muitas famílias aproveitam o tempo para um lazer comum. É o tempo em que muitos baixamos o ritmo, afinal descansar é humano e necessário.

 

Na Igreja, somos acostumados a ouvir que de Deus não tiramos férias. Isso é uma grande verdade, afinal, não podemos nos dar férias daquele que tudo fez por nós. Mas é justo que todos nós renovemos as nossas energias. Leigas e leigos, consagradas e consagrados, ministros ordenados. Todos devemos tirar um tempo necessário para o descanso, pois não somos máquinas. Em geral, este é um mês com poucas reuniões e atividades pastorais, mantendo-se a centralidade da vida cristã na liturgia, com a celebração da Eucaristia e da Palavra de Deus.

 

Cotidianamente, temos prazos para entregar trabalhos, para pagar contas, somos cobrados o tempo todo, mas este movimento constante para que a vida seja produtiva e proativa, às vezes pode-se refletir numa infinita exaustão. É um pouco do que o filósofo coreano Byung-Chul Han trabalha na sua obra consagrada Sociedade do Cansaço. Ele aponta que a sociedade disciplinar e repressora do século XX, descrita por Michel Foucault, dá espaço a uma nova organização coercitiva na qual as pessoas se cobram cada vez mais para apresentar resultados. O que vemos no início deste século XXI é a expansão de doenças como a depressão, transtorno de déficit de atenção com síndrome de hiperatividade (TDAH), Síndrome de Burnout (SB). Essas doenças são fruto do excesso de positividade (produzir, produzir e produzir!) e acabam fazendo parte do nosso cotidiano. O livro é bem mais abrangente e é, inclusive, uma boa dica de leitura.

 

A pandemia de covid-19, de certa forma, obrigou-nos a não parar. Muitos de nós, depois de quase dois anos de trabalho intenso, sentimos os reflexos da sociedade do cansaço na pele. Descansar é necessário e deve se tornar um tempo oportuno para, além de renovar as forças físicas, também reabastecer a vida espiritual, afetiva, comunitária. O descanso é uma oportunidade para crescimento e autoconhecimento. Não se cobre porque você tirou uns dias para descansar. Até Deus descansou!

 

Se abrirmos a Sagrada Escritura, no relato da Criação, encontraremos o seguinte: “No sétimo dia, Deus concluiu toda a obra que fizera; no sétimo dia, repousou de toda a obra que fizera. E Deus abençoou o sétimo dia e o santificou, por ser o dia em que Deus repousou de toda a obra da criação que fizera” (Gn 2,2-3). No decálogo, encontraremos a prescrição para a santificação do sábado, como memória do descanso de Deus, o seu repouso após o tempo da criação (cf. Ex 20,8-11).

 

O descanso é uma experiência de cuidado: com os outros e consigo mesmo. Pessoas cansadas ficam mais ansiosas, mais impacientes, mais intolerantes, irritam-se com facilidade. Descansar não é sinal de fraqueza, mas é uma resposta ao entendimento do tempo, a compreensão do nosso próprio tempo. Portanto, aproveite este tempo em que as atividades são mais amenas para descansar. Procure alternar com a equipe, assim todos poderão ter momentos de folga e revigoramento. Desligue-se daquilo que faz todos os dias e procure se distanciar de tudo aquilo que pode lhe prejudicar no seu propósito. Uma coisa é importante: não se descuide da vida espiritual! Reserve tempo para oração pessoal e participação da Eucaristia, para a meditação da Palavra de Deus e a inspiração de algum santo.

 

Os dias do descanso serão mais fecundos mediante um planejamento. Talvez uma viagem não seja possível, ou um encontro com os amigos. Escolha um bom livro, selecione filmes ou séries para assistir. Procure aprender algo novo. Aproveite para olhar a vida com novos olhos, os outros com novos olhos. Aproveite para olhar você mesmo com novos olhos. O descanso será uma experiência espiritual na medida em que nos aproximar de Deus, dos outros e de nós mesmos.

 

Bom descanso!

 

 

Marcus Tullius
Coordenador-geral da Pascom Brasil, membro do Grupo de Reflexão sobre Comunicação da CNBB, mestrando em Comunicação Social pela PUC Minas e apresentador do programa Igreja Sinodal em emissoras de inspiração católica.

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