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06/05/2022
Maria é Mãe de Deus, porque é Mãe de Jesus, que é Deus

Neste mês em que a Igreja nos convida a olharmos com mais amor à nossa Mãe, a Virgem Maria, vamos caminhar durante essas 4 semanas de maio com o padre Sílvio Zurawski e o Frei Jonas Nogueira da Costa, ambos mariólogos, para entendermos um pouco mais sobre os Dogmas que são dedicados à Maria. Seguiremos não uma lógica humana, mas a lógica histórica. Começaremos pelo Dogma da Maternidade Divina, depois da Virgindade Perpétua de Nossa Senhora, a Imaculada Conceição, e por último a Assunção de Nossa Senhora.
Para falarmos dos dogmas Marianos precisamos primeiro entender o que é um dogma. O padre Silvio explica dogma como “uma verdade de fé, definida de forma explícita e solene pelo magistério da Igreja, que faz isso através de formulações dogmáticas que se caracterizam pela brevidade. Um texto breve que tem coesão e consistência é exatamente esse caráter da brevidade que transmite e proclama uma definição da Igreja vinculada a um aspecto da fé”.
O dogma da Maternidade Divina ou Maria Mãe de Deus foi proclamado no Concílio de Éfeso em 431. Segundo o padre, “a Igreja já afirmava, em torno da pessoa de Jesus Cristo, a natureza humana e divina do verbo encarnado”, ou seja, as discussões não eram tanto sobre Maria, mas sobre a condição, a dignidade de Jesus Cristo. A Igreja então afirmava que, na única pessoa do verbo, existe a natureza humana e divina. Havia algumas heresias naquele contexto, em que procuravam dividir a pessoa de Jesus Cristo, provocando, de certa forma, e causando dúvidas de fé no povo cristão. Sendo assim, a Igreja sentiu a necessidade de, nessa definição acerca de Maria como a mãe de Deus, anunciar a pessoa integral de Jesus Cristo, o verbo encarnado na sua natureza humana e divina em Jesus”.
Maria como “Theotókos”, Mãe de Deus, aparece nas Sagradas Escrituras cerca de 25 vezes e uma das narrações mais conhecidas é na sua visita, já grávida, à sua prima Isabel. A mãe de João Batista exclama: “Como posso merecer que a Mãe do meu Senhor me venha visitar!”. Em um segundo momento, aparece no início do Evangelho de São João (1,14), ele diz: “E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que recebe do seu Pai como filho único, cheio de graça e verdade”, ou seja, o Verbo se fez carne no seio de Maria, gerado na natureza humana de Maria.
A pergunta que fica é a seguinte: como uma mulher pode ser a mãe de Deus? Segundo o padre Silvio, “As reflexões sobre a Maternidade Divina de Maria ou “Theotókos” (Maria mãe de Deus) são mais que reflexões e discussões mariológicas. São discussões e reflexões cristológicas, ou seja, em torno da pessoa de Jesus Cristo, uma única pessoa, o verbo eterno, gerado desde toda eternidade no Pai e pelo Pai, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Logo, a natureza divina vem do Pai de toda a eternidade, mas Deus quis, e na sua benevolência, voltou-se para humanidade assumindo a carne humana. Então Maria não é a mãe do divino, mas é a mãe do verbo encarnado, que é a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Como é essa divindade que sustenta a natureza humana e divina, a Igreja sempre proclamou Maria como a Mãe de Deus”.
Aos nossos ouvidos, pode soar como desrespeito o ato de Jesus chamar sua mãe de mulher. Nesse sentido, o padre diz que existem dois argumentos para explicar essa situação. “Geralmente se coloca dois argumentos. O primeiro seria como uma expressão cultural que, para nós, pode parecer com falta de respeito. No entanto, para outras pessoas, dizem que é a forma mais respeitosa de se tratar uma mulher. O outro argumento usado é visto na construção literária do Evangelho de João, onde Jesus, por dois momentos, se refere a Maria como mulher. Primeiro nas Bodas de Caná, quando Maria intercede pelo casal e Jesus diz: ‘Mulher o que tenho a ver com isso?’ e depois aos pés da Cruz, quando Jesus diz ‘Mulher eis aí o teu filho’, se referindo a João”.
“Jesus chama Maria de mulher para dar um papel especial, por resgatar a infidelidade de Eva. Ela não se deixa levar pela serpente, mas pisa na cabeça da mesma, como uma antecipação da Glória, quando ela é assunta ao céu”, disse o padre.
Marcos Paulo Mota