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10/02/2021
Orientações de Dom Antônio Augusto sobre o texto-base da CF 2021
Aos caríssimos agentes de pastoral, especialmente aos participantes da pastoral em que sou o bispo animador: a Pastoral Familiar

A Campanha da Fraternidade 2021, que, neste ano, conta com a participação das igrejas cristãs, tem sido analisada e criticada por pessoas de dentro da Igreja Católica, as quais querem falar com uma autoridade equivalente à dos bispos, dando orientações aos católicos sobre o que eles devem fazer, inclusive a fim de que não contribuam no Domingo de Ramos para a Campanha da Fraternidade, cuja finalidade, todos os anos, tem caráter preferencialmente social.
A maior parte das contribuições arrecadadas é mantida nas dioceses para atender aos trabalhos da Cáritas, aos trabalhos sociais, sobretudo durante as catástrofes que acontecem nas nossas dioceses. Assim, quaisquer orientações contrárias à contribuição para a Campanha da Fraternidade 2021 significam provocar, dentro da própria Igreja Católica, uma desunião, uma quebra da unidade. Se houve na história o Cisma do Oriente no século X e o Cisma do Ocidente no século XVI, que levou o Espírito Santo a suscitar dentro da Igreja Católica e dentro das igrejas cristãs o movimento ecumênico, estamos cumprindo esse movimento. Neste ano, seguimos, assim, por meio da Campanha da Fraternidade Ecumênica, a vontade de Deus. O ecumenismo não é uma heresia. O ecumenismo é a concretização da oração de Cristo para que “todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu Ti” (Jo 17,21) – que todos estejamos consumados na unidade.
Promover o ecumenismo não é um passe de mágica, pois exige um longo trabalho pastoral, muita oração, além do exercício de uma caridade fraterna extrema. Esse foi o motivo de a Campanha da Fraternidade, que foi idealizada por Dom Eugênio de Araújo Sales quando era bispo em Natal, ter sido estendida a todas as dioceses do Brasil pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Nesse sentido, desde os anos 1960, a CNBB não está, de forma alguma, sendo um caminho para defender posições opostas à moral natural e à doutrina revelada e confiada ao papa e aos bispos, opostas ao sentido de zelar, custodiar e transmitir a doutrina ao longo do tempo. As pessoas que estão criticando essa Campanha da Fraternidade são pessoas que, talvez movidas pelo bom zelo, estão criando dentro da Igreja o que se chama de “a contradição dos bons”, provocando divisões, polêmicas e principalmente confusão. Afinal, os católicos devem seguir orientações, principalmente aquelas que procedem dos bispos e daqueles que estão em reunião com os bispos, sejam sacerdotes, leigos, religiosos ou religiosas.
A Igreja Católica confiou às igrejas protestantes a elaboração do texto-base e, por isso, reconhece a redação apresentada pelos membros do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), atualmente composto pelos representantes de seis igrejas cristãs. Apresentam-se ali temas complexos, temas bem difíceis de serem conversados, dialogados, mas a Igreja Católica, mesmo que sejam posições adotadas pelas igrejas protestantes e anunciadas nesse texto dedicatório, não está de acordo com essas afirmações.
No entanto, devemos dialogar com todos, sejam eles cristãos, sejam ateus, sejam pessoas que não têm religião, sejam pessoas que têm religiões de matriz africana ou de origens orientais mais antigas, como o budismo e o hinduísmo, para chegarmos a fazer do mundo o que Deus quer: uma família fraterna. Uma família em que as pessoas possam compreender as diferenças, em que as pessoas dialoguem sem serem acusativas, sem serem conflitantes, sem serem agressivas, sem faltar com a caridade na palavra. Eu peço a vocês, agentes da Pastoral Familiar e de outras pastorais, que, quando começarem a circular pelas redes sociais acusações contra a CNBB, contra os bispos, contra as pessoas de outras religiões – que também têm dignidade e são filhas de Deus, pois Cristo morreu por elas –, que meditem em duas frases que Cristo pronunciou de forma decisiva em situações concretas. A primeira é “Quem tiver sem pecado que atire a primeira pedra” (Jo 8,7). A segunda frase, à qual já me referi, mas vale a pena repeti-la: “Que todos sejam um” (Jo 17,21). Que todos estejam consumados na unidade. Que, na diversidade, na pluralidade, saibamos ir ao denominador comum, que é a pessoa de Cristo, o Caminho, a Verdade e a Vida.
Peço encarecidamente que nós, agentes da Pastoral Familiar, tenhamos as ideias bem claras e que não sejamos, através da rede social, disseminadores de opiniões controversas, tanto por parte de católicos que se manifestam com falsa compreensão dos direitos dos negros, tanto por aqueles que agem como defensores últimos da fé – pois essa tarefa cabe aos bispos e ao papa, tampouco ofendamos nossos irmãos na fé com palavras e adjetivos que desqualificam as pessoas, porque todos somos filhos de Deus e todos temos pecados. Além disso, lembro também que todos nós temos de trabalhar pela unidade da Igreja por meio da nossa oração e devemos deixar que a Campanha da Fraternidade, nessa Quaresma, realmente provoque uma conversão, a começar pela conversão dentro da nossa Igreja. Que rezemos pelos nossos irmãos das igrejas protestantes, para que também eles tenham a consciência sensível para os sinais que Deus lhes dará, para que se convertam em suas posições. Que, acima disso, todos nós possamos nos converter, pois Cristo não veio para os santos, mas sim para os pecadores.
Que Deus abençoe a todos, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Amém!
Dom Antônio Augusto Dias Duarte
Bispo auxiliar na Arquidiocese do Rio de Janeiro