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13/04/2020
“Ele vive e te quer vivo!”
Entrevista com Dom Washington Cruz, arcebispo metropolitano de Goiânia

É Páscoa! A Igreja está em festa porque o sepulcro está vazio e o Filho do homem ressuscitou. Damos início ao Tempo Pascal com a proclamação da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, neste domingo (12). Esse tempo, identificado por muitos símbolos, características próprias e pela cor branca, se estende pelos próximos 50 dias. Durante a Quaresma, nos preparamos para esse período, que pode ser chamado também de “Grande Domingo”, porque só se encerrará no pôr do sol do sábado que antecede o Domingo de Pentecostes, dia 31 de maio.
O título desta matéria, faz alusão ao título da recente Exortação Apostólica pós-sinodal, do papa Francisco, Christus Vivit – para os jovens e para todo o povo de Deus. “Cristo Vive: é Ele a nossa esperança, e a mais bela juventude deste mundo! Tudo o que Ele toca se torna jovem, se torna novo, se enche de vida. Por isso, as primeiras palavras que quero dirigir a cada um dos jovens cristãos são: Ele vive e te quer vivo!” (CV, n. 1).
Palavras de esperança são o que precisamos neste momento. Passado o inverno da Quaresma, chegamos à festa mais importante da nossa fé. É Páscoa, festa da nossa salvação, a festa do amor de Deus por nós, a celebração da sua morte e ressurreição. É tempo de fazer a experiência do Ressuscitado. Neste momento de pandemia de coronavírus, a Ressureição de Cristo precisa ser para nós a mesma alegria que foi para os discípulos que sofreram a Semana Santa, viram a perseguição, Jesus sendo preso, torturado, morto e agora, três dias depois, percebem o túmulo vazio e, com as aparições, veem que ele vive. Somos convidados à vida nova e, neste ano, de modo muito singular, a partir da vivência da fé em família.
Este é um tempo privilegiado para todos nós. Basta pensar que ano após ano as festas religiosas no nosso mundo secularizado sofrem interferências com os símbolos que são usados mais pelo comércio, pelo capitalismo, pela obtenção do lucro do que pelo sentido espiritual, pastoral e teológico da celebração. Isso acontece também no Natal e o nosso desafio é sempre, de novo, explicar o sentido primeiro da Páscoa, é celebrar a Ressurreição de Jesus, o mistério da paixão, morte e vida plena que Jesus tem com a Páscoa e com ele também ressuscitar-nos, transformar a nossa vida, compreender como Deus quer que nos elevemos com ele, por meio da Ressurreição de Jesus. Assim como nos anos anteriores, mas desta vez de um modo muito novo, somos convidados a ver na vida os sinais da Ressurreição de Jesus. Cristo venceu a morte e, com ele, nós também podemos vencer os sinais da morte.
Nosso arcebispo Dom Washington Cruz nos fala do sentido da Semana Santa e da Ressurreição de Cristo neste tempo de pandemia que nos põe à prova em todos os aspectos, desde as relações familiares até a vida complexa em sociedade. Por fim, ele deixa uma mensagem de esperança a todos nós.
1 – A Igreja está sofrendo com seus templos fechados? Como o senhor interpreta este momento?
A criatividade tem sido um aspecto fundamental neste tempo de pandemia. É preciso falar sobre isso e nos alegrar pelo trabalho que vem sendo feito pelos meios de comunicação, sobretudo pela Pastoral da Comunicação (Pascom), pelo Vicariato para a Comunicação (Vicom). Deus seja louvado! Um irmão no episcopado escreveu recentemente que se o Demônio tinha plano de fechar igrejas, está perdendo feio o jogo, pois a Igreja vem se multiplicando a cada hora que passa com novas visualizações. A verdade, em toda essa situação tão diferente para nós, é que Deus está no comando, ele tem planos para nós, mas precisamos nos abrir a ele.
2 – Qual a missão da Igreja neste momento de pandemia?
Nós, humanos, frustramo-nos por não termos capacidade para conhecer o futuro. Muitos se perguntam, especialmente em tempos como o que vivemos agora: quando será restaurado o Reino de Deus? Mas a resposta volta a nos frustrar: não nos cabe conhecer os mistérios de Deus e da vida humana. Os apóstolos interrogavam-se sobre isso e nós vamos continuar nos interrogando e com a mesma ambição de conhecer os tempos. A nossa missão diante de tudo isso continua sendo anunciar a Páscoa para o presente e para o futuro, mas certos de que só um dia chegaremos ao seu conhecimento, que também não sabemos qual é.
3 – Com a pandemia do coronavírus, conseguimos perceber mais aspectos da nossa sociedade porque há mais silêncio, as pessoas estão mais próximas, embora mais distantes fisicamente. Quais manifestações de Páscoa vemos em nossa sociedade?
São visíveis momentos de paixão e de ressurreição. Os momentos de paixão são mais divulgados principalmente por conta da pandemia. Eles também são os mais buscados. Não podemos esquecer, todavia, dos momentos de ressureição que são aqueles de paz, de esperança, de Páscoa. Esses, pouco os vemos nos meios de comunicação. Não podemos deixar passar despercebidos os motivos de esperança e de sentido pascal. Em meio ao caos há gestos de solidariedade feitos de modo muito simples que levam o pão à mesa e o aconchego a quem mais precisa. Esses e tantos outros são gestos de Páscoa que precisam ser divulgados e proclamados porque são manifestações do bem.
4 – Como devemos celebrar a festa mais importante da nossa fé?
Precisamos ficar em casa, esperar esse temporal passar. Temos os meios de comunicação que são dom de Deus que nos tornam próximos e em unidade, embora distantes fisicamente. Claro, é um jeito novo, diferente para se celebrar a semana e o dia mais importante, mas é o momento de expressarmos nossa comunhão. Deus nos une e não há nada mais importante do que isso.
5 – Precisamos ter coragem para superar tudo isso. O senhor poderia deixar uma mensagem de esperança para todos nós?
Ao entrar solenemente em Jerusalém, Jesus e seus seguidores passaram antes por muitos momentos de provação, mas por fim a vida nova brotou. Depois, novamente, aconteceram momentos terríveis como o sacrifício da cruz. Houve também momentos como o lava-pés, a instituição da Eucaristia e do sacerdócio cristão, que revivemos há pouco. O que quero dizer com tudo isso é que a Páscoa chegou e as trevas cessaram. Apesar do isolamento social, Deus nos possibilita celebrar os santos mistérios do seu Filho neste ano de 2020 de modo muito diferente e especial também. Jamais nos esqueçamos que somos Igreja caminhante que está unida pelo lema pastoral “Muitos membros, um só corpo”. Deixemos que o Reino de Deus se estabeleça novamente, certos de que a capital do seu reino não será mais Jerusalém, mas o coração de cada um que o ama e de cada família que o abraça.
Feliz Páscoa, que Deus o cubra das melhores graças e que vivamos santamente este período privilegiado.
Nossa Senhora Auxiliadora, que é Padroeira desta Igreja, nos abençoe em seu Filho Jesus.
Aleluia, Aleluia, Aleluia!
Fúlvio Costa