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06/05/2022
Escuta Integral
Você que acompanha esta coluna no Encontro Semanal certamente já se deu conta que não é a primeira vez, neste ano, que escrevo sobre a escuta. Se essa repetição causa certo enfado peço, de antemão, sinceras desculpas. Mas, tenho convicção de que este tema não se esgota em um texto só e nós ainda precisamos muito de ruminá-lo. A escuta, mais do que uma etapa no processo, é uma atitude permanente em uma Igreja que deseja ser sinodal e é essencial para a comunicação humana. Esta é a motivação do papa Francisco na mensagem para o 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que será celebrado em 29 de maio.
Depois do “ir” e “ver”, na mensagem de 2021, o tema escolhido para este ano é “escutar com o ouvido do coração”. Para o papa Francisco, “estamos perdendo a capacidade de ouvir a pessoa que temos à nossa frente. [...] Ao mesmo tempo, a escuta está experimentando um novo e importante desenvolvimento em campo comunicativo e informativo”. Ele também reflete que “escutar é decisivo na gramática da comunicação e condição para um autêntico diálogo”.
A jornalista Carla Faour, no livro A arte de escutar, afirma que “as pessoas esquecem que quem nunca escutou não sabe como emitir o som. As pessoas esquecem que a escuta precede a fala”. Nossa sociedade, e também a Igreja, privilegia pouco a escuta. Aquela escuta autêntica, atenciosa, aberta. Talvez se ouça muito, mas se escute pouco. Está aí um desafio para os comunicadores de hoje, principalmente neste contexto sinodal, que é o de oferecer, para além dos ouvidos, a capacidade de escuta. Esta é a missão da Igreja ao se colocar no ambiente comunicacional: dos meios tradicionais às mídias digitais, ela não está só para emitir a sua palavra, mas também para escutar aqueles que a procuram neste lugar.
Um aspecto importante a ser destacado da mensagem é que não escutamos apenas com o ouvido, mas com todo o nosso ser, pois “a verdadeira sede da escuta é o coração”. E, como encontramos em Mateus 6,21, “onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração”. É preciso que o nosso coração tenha ouvidos.
Segundo Faour, “escuta-se com todas as células do corpo. Escuta-se com as mãos, com os olhos, com a respiração, escuta-se, inclusive, com os ouvidos”. Que a celebração de mais um Dia Mundial das Comunicações Sociais, um presente do Concílio Vaticano II a todos os comunicadores, nos ajude a redescobrir esta escuta integral, na qual se escuta, inclusive, com os ouvidos.
Marcus Tullius
Mestrando em Comunicação Social pela PUC Minas, coordenador-geral da Pascom Brasil e membro do Grupo de Reflexão em Comunicação da CNBB.
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