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10/12/2021
A alegria para ler os sinais do tempo
O terceiro Domingo do Advento, anualmente, desperta, no coração dos que vivem o itinerário litúrgico, por meio da Palavra proclamada e do pão partilhado, a alegria. “Canta de alegria, cidade de Sião” é a exortação inicial na profecia de Sofonias (3,14) e “alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos” é o clamor do apóstolo Paulo à comunidade filipense (4,4).
Talvez muitos de nós nos perguntemos por que ter alegria se, depois de quase dois anos, ainda vivemos uma pandemia que vitimou tantas pessoas e desesperançou a humanidade. Se olharmos apenas com os olhos humanos, não seremos capazes de ler os sinais dos tempos e ainda poderemos taxar a Deus de cruel, perverso e vingativo. Contudo, aos olhos da fé, podemos encontrar sentido e dizer, após a renovação das promessas batismais na celebração dos sacramentos que “esta é a nossa fé, que da Igreja recebemos e sinceramente professamos, razão de nossa alegria em Cristo nosso Senhor”. A fé, dom de Deus e adesão pessoal de cada crente, não nos deixa desanimar.
Na Constituição pastoral Gaudium et Spes (n. 4), do Concílio Vaticano, cujo título aponta para as alegrias (fruto do Espírito) e as esperanças (virtude teologal) no mundo de hoje, afirma-se que “para cumprir sua missão, a Igreja, a todo momento, deve escutar os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho”. O documento é preciso em reiterar que isto é necessário para que ela possa responder a interrogações sobre a vida presente e a vida futura.
No caminho de uma Igreja sinodal, a convite do papa Francisco, somos chamados a exercitar de maneira aberta e plena este apelo conciliar e procurar responder, à luz do Evangelho, o que Deus tem colocado em nosso caminho. Escutar e discernir, à luz do Evangelho, as alegrias (e por que não as tristezas também?) do mundo de hoje.
Não obstantes os sofrimentos do tempo presente, não deixemos que a alegria se afaste da nossa vida. Um dos mais belos episódios na vida de Francisco, o santo de Assis, quando acompanhado do frei Leão rumo à Santa Maria dos Anjos é interrogado sobre onde está a perfeita alegria. Depois de perscrutar várias ações, sugere que “se nós suportarmos todas estas coisas pacientemente e com alegria, pensando nos sofrimentos de Cristo bendito, as quais devemos suportar por seu amor: ó irmão Leão, escreve que aí e nisso está a perfeita alegria”. Que não nos falte a perfeita alegria para dar o tom da vida cristã!
Marcus Tullius
Filósofo e publicitário. Coordenador geral da Pascom Brasil, membro do Grupo de Reflexão em Comunicação da CNBB. Autor do livro Esperançar: a missão do agente da Pastoral da Comunicação, pela Editora Paulus.
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