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11/05/2021
“Ir e ver”
O método eficaz da autêntica comunicação
“Vem e verás (Jo 1,46). Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são”. Este provocativo tema da mensagem do papa Francisco para a 55ª edição do Dia Mundial das Comunicações Sociais guarda uma profunda ligação com a anterior. Em 2020, o papa disse o que era preciso fazer (contar histórias, a recuperação das narrativas) e valorizar a dimensão da escuta. Em 2021, ele diz como fazer (indo ao encontro das pessoas onde estão e como são) e traz o “ver” como caminho eficaz. A mensagem de 2020, foi escrita antes da pandemia e a atual já foi pensada, escrita e difundida dentro deste período dramático pelo qual passa a humanidade.
A comunicação autêntica, como assinala Francisco no texto, pressupõe a saída de si. Para a vida se fazer história, é preciso “ir e ver”. Não dá para achar que já sabe, se ainda não foi ver. “Ir e ver”, à primeira vista, pode parecer apenas movimento, deslocamento, mas o pontífice coloca como um método. A sua pertinência pode ser percebida pela repetição ao longo do texto. Além desta, há outras duas expressões bastante corriqueiras e que dão uma tônica especial ao texto de Francisco.
A primeira é “gastar as solas dos sapatos”. Francisco chama a atenção para o risco de se produzir informação distante da realidade, uma comunicação “de palácio”, que não gera envolvimento. A velocidade da informação provocada pelas mídias sociais pode levar ao comodismo e às facilidades de receber algo já pronto. Sem sair da bolha não se faz a experiência do encontro. Gastar as solas dos sapatos não é apenas uma expressão retórica. É expressão da renúncia e do esforço, das vaidades perdidas, do apequenamento para que o outro cresça, da mística de se colocar frente a frente, de estar no mesmo nível, do coração a coração.
A segunda é “ir aonde ninguém mais vai”. Este é o testemunho de coragem e determinação que o papa Francisco valoriza nos profissionais de comunicação. A humanidade, a sociedade e a democracia seriam empobrecidas, segundo o papa, se não houvesse essa capacidade do jornalismo de ir aonde ninguém quer ir e mostrar o que precisa ser visto. Não é apenas uma constatação, mas uma chamada de atenção aos comunicadores católicos – a nós, comunicadores católicos! – a nos preocuparmos com as causas justas e necessárias e não servirmos apenas a interesses de alguns poucos, ou nos preocuparmos apenas com aquilo que é mais prático ou mais fácil de ser resolvido. Quem não se arrisca a ir e ver, fica apenas na superficialidade e comunica a partir de suposições. Esta não pode ser a realidade, não dá para comunicar a partir do “ouvi dizer”, ou “me falaram”.
O fascínio da pregação de Jesus, alerta o papa, se dava não apenas pelo seu discurso, mas se comunicava a partir do olhar, do tom da voz, dos seus gestos. A Palavra que se fez carne, o Logos encarnado, mostra o essencial da vida e da comunicação. Os comunicadores que o entendem, descobrem a alma da comunicação. É um paradoxo com o mundo atual, cheio dos vazios: pessoas, relações, interesses. “Fala muito, diz uma infinidade de nadas”. A citação de Shakespeare, em “O Mercador de Veneza”, serve - mais uma vez - para chamar a atenção dos comunicadores cristãos que ficam acomodados no seu lugar e perdem a oportunidade de viverem a comunicação autêntica. É preciso ir além da eloquência das palavras, do vazio das aparências e, nos acontecimentos da vida, fazer a profunda experiência do encontro. Hoje, o desafio é tirar os olhos das telas e olhar nos olhos reais, para encontrar de verdade com as pessoas. É um reaprendizado.
O Dia Mundial das Comunicações Sociais é um convite para sermos possuídos pela instigante mensagem de Francisco e lançarmo-nos no “ir e ver”. Talvez precisemos fazer como Diego, da história “A função da arte/2”, de Eduardo Galeano, que após percorrer quilômetros com o pai para conhecer o mar, ficou mudo diante da sua imensidão e quando conseguiu falar, só foi capaz de pedir: “Me ajuda a olhar!”.
Marcus Tullius
Filósofo e publicitário. Coordenador geral da Pascom Brasil, membro do Grupo de Reflexão em Comunicação da CNBB e coordenador de conteúdos da TV Pai Eterno.
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