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24/11/2020
O Ano Litúrgico
“Um Tempo da graça do Senhor” (Is 61,2)
Podemos dizer que o ser humano é um ser simbólico, isto é, capaz de significar o tempo e a história: imprimir o caráter festivo, celebrar com festa, mas também demarcar o luto, a contrição, a expectativa. Noutras palavras, elege sinais, marcos temporais e materiais que traduzem a sua capacidade de simbolizar. O mesmo ocorre em se tratando da religião. A manifestação de Deus é acolhida como um fenômeno próximo ao cristão, sentida desde a presença histórica de Jesus e o anúncio de sua constância junto à Igreja. Sacralizar o tempo é, então, uma das formas mais eficazes de viver a fé, o que, em nosso caso, fazemos a partir do Ano Litúrgico.
Chamamos Ano Litúrgico o tempo em que a Igreja celebra todos os feitos salvíficos operados por Deus em Jesus Cristo. Como afirma o documento conciliar: “Através do ciclo anual, a Igreja comemora o mistério de Cristo, desde a Encarnação ao dia de Pentecostes e à espera da vinda do Senhor” (Sacrosanctum Concilium, n. 102). O Ano Litúrgico é, portanto, um tempo repleto de sentido e de simbolismo religioso, de essência pascal, estabelecendo solenemente o ingresso definitivo de Deus na realidade do mundo criado.
Podemos dizer, também, que é o momento de Deus no tempo, quer dizer, o kairós divino na realidade. Nele estão presentes duas temporalidades distintas: o tempo do relógio, da sucessão das horas e da divisão em um antes e um depois, o chrónos, e o tempo de Deus, o agora da salvação, o kairós. Logo, o tempo cronológico é invadido pela dimensão kairológica, a possibilidade de nos inserirmos no tempo de Deus. É o tempo favorável, o “tempo de graça e de salvação”, como tantas vezes foi referido pelas escrituras sagradas (cf. 2Cor 6,2; Is 49,8).
Dito isso, reconhecemos que as celebrações do Ano Litúrgico não olham apenas para o passado, comemorando-o. Estão defronte ao futuro, na perspectiva do eterno, fazendo do passado e do futuro um eterno presente, o “hoje” de Deus, acessado pela sacramentalidade da liturgia (cf. Sl 2,7; 94(95); Lc 4,21; 23,43). Há, enfim, uma dimensão escatológica do Ano Litúrgico. Tendo como coração o Mistério Pascal de Cristo, centro vital de todo o seu organismo, nele palpitam as pulsações do coração de Cristo, que enchem de vida e vitalidade de Deus o corpo da Igreja e a vida dos cristãos, caminhantes em busca da pátria definitiva. Justamente isso está em jogo ao findar de cada ciclo litúrgico, ao nos aproximarmos dos últimos domingos do Ano Litúrgico.
Distinguindo-se do ano civil, o Ano Litúrgico não tem uma data fixa de início e de término. Inicia-se sempre no primeiro Domingo do Advento e encerra-se no sábado da 34ª semana do Tempo Comum, o sábado imediatamente após a Solenidade de Cristo Rei do Universo. Essa é, aliás, a última solenidade do Ano Litúrgico e simboliza a realeza absoluta de Cristo até o fim dos tempos, motivo pelo qual está inserida no último domingo do Ano Litúrgico. Do outro lado, ainda que não tenha uma data fixa de início, podemos facilmente saber quando o novo ciclo litúrgico terá início, o que sempre ocorre no domingo mais próximo do dia 30 de novembro – em geral, entre os dias 27 de novembro e 3 de dezembro.
Ao considerar como centro o Mistério Pascal de Cristo, o Ano Litúrgico se apresenta como dinamismo de salvação, em que a redenção operada por Deus, através de Jesus e na unidade do Espírito Santo, deve ser viva realidade em nossas vidas – a possibilidade de termos uma experiência mais viva do amor de Deus enquanto mergulhamos no mistério de Cristo e no seu amor sem limites.
Equipe do Canto Litúrgico
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