Despedida e Gratidão

Minha missão na Arquidiocese de Montes Claros está se concluindo. Com as malas prontas para partir em direção à Goiânia, onde assumirei, no próximo dia 16 de fevereiro de 2022, a missão de Arcebispo, tenho vivido muitos momentos de despedidas. Há um misto de sentimentos. Alegria de ter criado laços de amizade no contexto da experiência de fé e de missão. Gratidão pela acolhida sempre muito generosa de todas as comunidades por onde passei. Reconhecimento da resposta de tantos irmãos e irmãs que acolheram nossos apelos e pedidos e se ofereceram de modos tão diferentes e expressivos no caminho que percorremos juntos desde que aqui cheguei. Uma sensação de perda ao olhar para trás nas estradas e pensar que dificilmente eu voltarei a essa ou aquela comunidade. Vem ao meu coração a certeza da fé de que estaremos unidos na comunhão eucarística, qual fundamento de toda expressão de comunhão eclesial.

Tenho escutado mensagens de agradecimento que me ajudam a perceber o quanto pude fazer. Escutando, me dou conta do que, por razões diversas, não realizei. Reconheço, sem falsa modéstia, mas com realismo, que não poderia jamais fazer tudo o que pensei ser necessário como parte de meu pastoreio. Recolho-me na minha condição humana e luto por superar qualquer desejo de onipotência que está sempre à espreita para confundir minha condição de criatura. O Senhor Deus me perdoe pelas vezes que cedi a essa tentação. E me faça compreender que pude servir segundo os dons que recebi. Mas eu não sou nada. Como o apóstolo Paulo, confesso: “Eu plantei; Apolo regou, mas é Deus quem fazia crescer. Assim, pois, aquele que planta nada é; mas importa somente Deus, que dá o crescimento” (1Cor 3,6-7).

Gratidão é o sentimento que toma conta de meu coração neste momento de partir para a nova missão. Eu conseguiria elencar muitos nomes de irmãos e irmãs que estiveram comigo na missão desses poucos anos. Mas não conseguiria elencar todos. Para agradecer a todos e a cada um, eu somente posso fazer pelo coração daquele que de ninguém se esquece, que a ninguém exclui de seu olhar amoroso: o coração de Deus. E faço isso na Eucaristia, ação de graças por excelência. Ali, diante do Senhor que se faz presente no pão e no vinho, posso adorar a Deus e, de joelhos, dizer silenciosamente: obrigado, Senhor, por todas as pessoas que estiveram comigo no itinerário de minha missão na Igreja de Montes Claros. Obrigado, Senhor, por tudo o que aqui vivi. Acolhe, Senhor, as minhas faltas e transforma-as, por teu amor, em graças para as pessoas que porventura ofendi ou fui indiferente. Completa, Senhor, com tua misericórdia, o que faltou em meu ministério. Enche-me, Senhor, do teu vigor, para eu prosseguir inteiro, sem nenhum apego ou distração do caminho que me indicaste. Fortalece, Senhor, os inúmeros servidores desta amada Igreja de Montes Claros, para que não cessem de te servir, especialmente na pessoa dos pobres, dos pequenos, dos necessitados, dos marginalizados. Faze tua caridade pulsar nas veias de todos os braços que se estendem para fazer o bem. Não deixe nenhum de nós desanimar diante de desafios. Mas sustenta com teu amor a vida de cada um de nós.

Rezem por mim. Que eu seja em Goiânia o pastor que Deus deseja para aquela Igreja. E permaneçam firmes no seguimento de Jesus, nas comunidades eclesiais missionárias a serviço do Evangelho da Vida. Amém.

+ João Justino de Medeiros Silva
Arcebispo Eleito da Arquidiocese de Goiânia