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12/07/2020
Meu Senhor e meu Deus
Queridos irmãos e irmãs,
No último dia 3 de julho, a Igreja celebrou a festa litúrgica de São Tomé, Apóstolo. Mesmo que a celebração já tenha acontecido, gostaria de refletir com vocês sobre alguns elementos dos textos bíblicos lidos naquele dia. O texto relata duas aparições de Jesus, a primeira no Domingo da Ressurreição e a segunda “oito dias depois” (Jo 20,26). Na primeira, Tomé não estava presente e, quando chegou, não acreditou e replicou: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos, se eu não puser a mão no seu lado, não crerei” (Jo 20,25). Na segunda aparição, ao tocar as marcas da paixão, presentes no Corpo glorioso de Cristo, o apóstolo incrédulo faz um passo na fé e diz: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20,29). Sem nos deter em uma explicação exegética do texto, dele podemos colher algumas reflexões espirituais.
As feridas da paixão que Tomé tocou e que permitiram a ele dar esse grande passo na fé, estavam presentes no Corpo glorioso de Cristo, como perene sinal da sua paixão e dos pecados da humanidade que ele carregou sobre si. O Corpo de Cristo é a Igreja, a Esposa gloriosa do Cordeiro, Santa, através da qual se revela ao mundo a glória de Jesus. Ela é composta, porém, por membros que, na militância aguerrida, caem e se ferem pelo pecado, contra o qual batalham sem cessar. Foi essa Esposa ferida que Jesus amou na cruz e por ela deu sua vida e através da qual continua a resplandecer sua glória no mundo.
Para fazermos um verdadeiro salto na fé é preciso, portanto, aprender a amar a Igreja e aceitar tocar as suas feridas. Isso significa aceitar que nela a glória de Cristo resplandece e através dela ao mundo e, ao mesmo tempo, ela é marcada pelos pecados dos seus membros militantes. Tocando essas mazelas é que compreendemos a verdadeira força do Senhor, que age no mundo por meio dos seus membros chagados. Quem não aceita isso corre o risco de não acolher que o Deus onipotente se fez fraco no presépio de Belém e no madeiro da Cruz, justamente para que a força do seu amor salvador se manifestasse na sua fraqueza e na de seus membros.
Daqui podemos tirar duas conclusões práticas. A primeira é que as fraquezas dos membros de Cristo não podem ser escusas para não crermos. Pelo contrário, elas são a maior prova de que a Igreja é a Esposa de Cristo e, por meio dela, é ele quem age. A segunda é que as chagas que nela vemos são, em parte, as de cada um de nós, dos nossos pecados pessoais, pois somos os membros desse Corpo Místico. Assim, amar verdadeiramente a Igreja significa assumir a inalienável responsabilidade da própria conversão e santificação, sem acusações ou condenações àquela que Cristo amou e por quem se entregou. Viva a Igreja!
Dom Washington Cruz, CP
Arcebispo Metropolitano de Goiânia
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