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15/02/2018

Quaresma 2018

Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma

Quaresma 2018 - Notícias - Arquidiocese de Goiânia

“Porque se multiplicará a ini­quidade, vai resfriar o amor de muitos” (Mt 24,12)

Amados irmãos e irmãs!

Mais uma vez vamos en­contrar-nos com a Pás­coa do Senhor! Todos os anos, com a finalidade de nos preparar para ela, Deus na sua providência oferece-nos a Qua­resma, “sinal sacramental da nos­sa conversão”,[1] que anuncia e torna possível voltar ao Senhor de todo o coração e com toda a nossa vida.

Com a presente mensagem de­sejo, este ano também, ajudar toda a Igreja a viver, neste tempo de gra­ça, com alegria e verdade; faço-o deixando-me inspirar pela seguinte afirmação de Jesus, que aparece no Evangelho de Mateus: “Porque se multiplicará a iniquidade, vai res­friar o amor de muitos” (24,12).

Esta frase situa-se no discurso que trata do fim dos tempos, pro­nunciado em Jerusalém, no Monte das Oliveiras, precisamente onde terá início a paixão do Senhor. Dan­do resposta a uma pergunta dos dis­cípulos, Jesus anuncia uma grande tribulação e descreve a situação em que poderia encontrar-se a comuni­dade dos crentes: à vista de fenôme­nos espaventosos, alguns falsos pro­fetas enganarão a muitos, a ponto de ameaçar apagar-se, nos corações, o amor que é o centro de todo o Evan­gelho.

Os falsos profetas

Escutemos esse trecho, interro­gando-nos sobre as formas que as­sumem os falsos profetas.

Uns assemelham-se a “encanta­dores de serpentes”, ou seja, apro­veitam-se das emoções humanas para escravizar as pessoas e levá-las para onde eles querem. Quantos fi­lhos de Deus acabam encandeados pelas adulações dum prazer de pou­cos instantes que se confunde com a felicidade! Quantos homens e mu­lheres vivem fascinados pela ilusão do dinheiro, quando este, na reali­dade, os torna escravos do lucro ou de interesses mesquinhos! Quantos vivem pensando que se bastam a si mesmos e caem vítimas da solidão!

Outros falsos profetas são aque­les “charlatães” que oferecem solu­ções simples e imediatas para todas as aflições, mas são remédios que se mostram completamente ineficazes: a quantos jovens se oferece o falso remédio da droga, de relações pas­sageiras, de lucros fáceis, mas deso­nestos! Quantos acabam enredados numa vida completamente virtual, onde as relações parecem mais sim­ples e ágeis, mas depois revelam-se dramaticamente sem sentido! Esses impostores, ao mesmo tempo que oferecem coisas sem valor, tiram aquilo que é mais precioso como a dignidade, a liberdade e a capacida­de de amar. É o engano da vaidade, que nos leva a fazer a figura de pa­vões para, depois, nos precipitar no ridículo; e, do ridículo, não se volta atrás. Não nos admiremos! Desde sempre o demônio, que é “men­tiroso e pai da mentira” (Jo 8,44), apresenta o mal como bem e o falso como verdadeiro, para confundir o coração do homem. Por isso, cada um de nós é chamado a discernir, no seu coração, e verificar se está ame­açado pelas mentiras desses falsos profetas. É preciso aprender a não se deter no nível imediato, super­ficial, mas reconhecer o que deixa dentro de nós um rasto bom e mais duradouro, porque vem de Deus e visa verdadeiramente o nosso bem.

 

Um coração frio

Na Divina Comédia, ao descre­ver o Inferno, Dante Alighieri ima­gina o diabo sentado num trono de gelo; [2] habita no gelo do amor sufoca­do. Interroguemo-nos então: Como se resfria o amor em nós? Quais são os sinais indicadores de que o amor corre o risco de se apagar em nós?

O que apaga o amor é, antes de mais nada, a ganância do dinheiro, “raiz de todos os males” (1Tm 6,10); depois dela, vem a recusa de Deus e, consequentemente, de encontrar consolação n'Ele, preferindo a nossa desolação ao conforto da sua Pala­vra e dos Sacramentos.[3] Tudo isto se permuta em violência que se abate sobre quantos são considerados uma ameaça para as nossas “certezas”: o bebê nascituro, o idoso doente, o hóspede de passagem, o estrangei­ro, mas também o próximo que não corresponde às nossas expetativas.

A própria criação é testemunha silenciosa deste resfriamento do amor: a terra está envenenada por resíduos lançados por negligência e por interesses; os mares, também eles poluídos, devem infelizmente guardar os despojos de tantos náu­fragos das migrações forçadas; os céus – que, nos desígnios de Deus, cantam a sua glória – são sulcados por máquinas que fazem chover ins­trumentos de morte.

E o amor resfria-se também nas nossas comunidades: na Exortação apostólica Evangelii gaudium, procu­rei descrever os sinais mais eviden­tes dessa falta de amor. São eles a acédia egoísta, o pessimismo estéril, a tentação de se isolar empenhando­-se em contínuas guerras fratricidas, a mentalidade mundana que induz a ocupar-se apenas do que dá nas vistas, reduzindo assim o ardor missionário. [4]

Que fazer?

Se porventura detectamos, no nosso íntimo e ao nosso redor, os sinais acabados de descrever, sai­bamos que, a par do remédio por vezes amargo da verdade, a Igreja, nossa mãe e mestra, nos oferece, neste tempo de Quaresma, o re­médio doce da oração, da esmola e do jejum.

Dedicando mais tempo à oração, possibilitamos ao nosso coração descobrir as mentiras secretas, com que nos enganamos a nós mesmos, [5] para procurar finalmente a consola­ção em Deus. Ele é nosso Pai e quer para nós a vida.

A prática da esmola liberta-nos da ganância e ajuda-nos a descobrir que o outro é nosso irmão: aquilo que possuo, nunca é só meu. Como gostaria que a esmola se tornasse um verdadeiro estilo de vida para todos! Como gostaria que, como cristãos, seguíssemos o exemplo dos Apóstolos e víssemos, na possibili­dade de partilhar com os outros os nossos bens, um testemunho con­creto da comunhão que vivemos na Igreja. A este propósito, faço minhas as palavras exortativas de São Paulo aos Coríntios, quando os convidava a tomar parte na coleta para a comu­nidade de Jerusalém: “Isto é o que vos convém” (2Cor 8,10). Isso vale de modo especial na Quaresma, durante a qual muitos organismos recolhem coletas a favor das Igre­jas e populações em dificuldade. Mas como gostaria também que no nosso relacionamento diário, peran­te cada irmão que nos pede ajuda, pensássemos: aqui está um apelo da Providência divina. Cada esmola é uma ocasião de tomar parte na Pro­vidência de Deus para com os seus filhos; e, se hoje Ele Se serve de mim para ajudar um irmão, como deixa­rá amanhã de prover também às mi­nhas necessidades, Ele que nunca Se deixa vencer em generosidade?[6]

Por fim, o jejum tira força à nos­sa violência, desarma-nos, consti­tuindo uma importante ocasião de crescimento. Por um lado, permite­-nos experimentar o que sentem quantos não possuem sequer o mí­nimo necessário, provando dia a dia as mordeduras da fome. Por outro, expressa a condição do nosso espí­rito, faminto de bondade e sedento da vida de Deus. O jejum desperta­-nos, torna-nos mais atentos a Deus e ao próximo, reanima a vontade de obedecer a Deus, o único que sacia a nossa fome.

Gostaria que a minha voz ul­trapassasse as fronteiras da Igreja Católica, alcançando a todos vós, homens e mulheres de boa vonta­de, abertos à escuta de Deus. Se vos aflige, como a nós, a difusão da ini­quidade no mundo, se vos preocupa o gelo que paralisa os corações e a ação, se vedes esmorecer o sentido da humanidade comum, uni-vos a nós para invocar juntos a Deus, je­juar juntos e, juntamente conosco, dar o que puderdes para ajudar os irmãos!

O fogo da Páscoa

Convido, sobretudo os membros da Igreja, a empreender com ardor o caminho da Quaresma, apoiados na esmola, no jejum e na oração. Se por vezes parece apagar-se em muitos corações o amor, este não se apaga no coração de Deus! Ele sempre nos dá novas ocasiões, para podermos recomeçar a amar.

Ocasião propícia será, também este ano, a iniciativa “24 horas para o Senhor”, que convida a celebrar o sacramento da Reconciliação num contexto de adoração eucarísti­ca. Em 2018, aquela terá lugar nos dias 9 e 10 de março – uma sexta­-feira e um sábado –, inspirando-se nestas palavras do Salmo 130: “Em Ti, encontramos o perdão” (v. 4). Em cada diocese, pelo menos uma igreja ficará aberta durante 24 horas consecutivas, oferecendo a possibi­lidade de adoração e da confissão sacramental.

Na noite de Páscoa, reviveremos o sugestivo rito de acender o círio pascal: a luz, tirada do “lume novo”, pouco a pouco expulsará a escuri­dão e iluminará a assembleia litúr­gica. “A luz de Cristo, gloriosamen­te ressuscitado, nos dissipe as trevas do coração e do espírito”,[7] para que todos possamos reviver a experiên­cia dos discípulos de Emaús: ouvir a palavra do Senhor e alimentar-nos do Pão Eucarístico permitirá que o nosso coração volte a inflamar-se de fé, esperança e amor.

Abençoo-vos de coração e rezo por vós. Não vos esqueçais de rezar por mim.

Vaticano, 1 de Novembro de 2017
Solenidade de Todos os Santos

FRANCISCO

_________________________

[1] Missal Romano, I Domingo da Quaresma, Oração Coleta.

[2] “Imperador do reino em dor tamanho / saía a meio peito ao gelo baço” (Inferno XXXIV, 28-29).

[3] “É curioso, mas muitas vezes temos medo da consolação, medo de ser consolados. Aliás, sentimo-nos mais seguros na tristeza e na desolação. Sabeis porquê? Porque, na tristeza, quase nos sentimos protagonistas; enquanto, na consolação, o protagonista é o Espírito Santo” (Angelus, 7/XII/2014).

[4] Nn. 76-109.

[5] Cf. Bento XVI, Carta enc. Spe salvi, 33.

[6] Cf. Pio XII, Carta enc. Fidei donum, III.

[7] Missal Romano, Vigília Pascal, Lucernário.

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