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06/02/2018
1ª Reunião Mensal de Pastoral 2018
Superar a violência via caminhada cristã
Os caminhos para a superação da violência na sociedade
No próximo dia 10 de fevereiro, das 8h30 às 12h30, acontecerá, no Centro Pastoral Dom Fernando (CPDF), a primeira Reunião Mensal de Pastoral do ano. Nela terá destaque a abordagem do tema O enfrentamento da violência na perspectiva da Sagrada Escritura, que será apresentado pelo frei Fernando Inácio Peixoto de Castro, vigário da Paróquia São Francisco de Assis, do Setor Leste Universitário. A palestra está em sintonia com o tema e o lema da Campanha da Fraternidade 2018, respectivamente, “Fraternidade e superação da violência” e “Em Cristo somos todos irmãos” (Mt 23,8).
Como todos os anos, a Campanha da Fraternidade tem o objetivo de preparar os fiéis, os pastores e a Igreja de modo geral para a Páscoa do Senhor. Por isso, a campanha provoca a Igreja e a sociedade a refletir um tema específico no sentido de recuperar a dimensão da fraternidade na vida cristã. Neste ano, a CF direciona a busca da fraternidade em vista da superação da violência.
Frei Fernando, em entrevista, falou sobre o tipo de violência que trata a Palavra de Deus e aquela que a Campanha da Fraternidade nos propõe para que atitudes não violentas possam nortear e transformar nossas vidas e a sociedade. De acordo com ele, o conceito de violência na Bíblia aparece sob duas vertentes. A primeira fala de “uma vertente má, que é a mais numerosa, por exemplo, não seja violento com o pobre que te suplica, que quer dizer: trate-o com mansidão porque o contrário da violência é mansidão. É ainda dizer: seja atento ao pobre, seja generoso com ele; o que em nossos dias entraria também nas questões trabalhistas, nas relações humanas”. Ele comentou que São Paulo, no capítulo terceiro da Carta aos Colossenses, diz o seguinte: “maridos, não sejam grosseiros com as suas esposas”. Segundo o frade, São Paulo faz um sinal para uma tendência comum de violência presente em todas as épocas.
“Conforme frei Fernando, a violência é o grande fenômeno do tempo atual. É um sentimento, um excesso de uma emoção que chamamos de ira. Esta que, por sua vez, é um dos sete pecados capitais. A violência, portanto, é uma ira sem controle, sem medida, que ultrapassa a normalidade da emoção humana. Se bem administrada, pode ser uma emoção importante para a vida, que impulsiona a alcançar objetivos. Fora de controle, pode levar a tragédias”
Já a segunda vertente de violência presente na Bíblia é positiva e bastante citada nos evangelhos. Ele explicou esse ponto citando a passagem: “O Reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos que o conquistam” (Mt 11,12). “A palavra violência vem do verbo violar, ou seja, transgredir, ultrapassar medidas. Então podemos dizer que a violência é uma emoção que ultrapassa a medida do controle da pessoa que a tem. Portanto, quando a palavra diz que o Reino dos céus é dos violentos, quer dizer que é daqueles capazes de ultrapassar as medidas para alcançá-lo”.
Diante disso, à luz da Palavra de Deus, frei Fernando disse que a Campanha da Fraternidade nos convoca a superarmos o comportamento de violência por uma atitude de fraternismo, isto é, de nos reconhecermos como irmãos. Trata-se de uma reação da Igreja ao mundo violento. Para tanto, ele sugere três pontos de partida:
Família: Em casa, aprendemos a superar atitudes de violência ou de uma ira não bem administrada. Papai e mamãe violentos são uma bela escola de violência aos filhos. E isso não é apenas em gestos, tapas e socos. Uma palavra grosseira é uma ótima lição para um filho aprender a ser violento. A Igreja, diante disso, precisa investir na Pastoral Familiar. É na família que se aprende a ser irmão, por isso também os pais não podem ter apenas um filho. Ora, como meu filho ou minha filha vai ser fraterno e aprender a administrar suas emoções se ele não tem irmão? Como queremos que ele seja irmão se não formos capazes de dar irmãos a ele?
Comunidade Igreja – Catequese: Os bispos, padres e vigários, precisam investir em seus leigos a partir da catequese. Como alguém pode se aproximar do Batismo, da Crisma, da Primeira Eucaristia se não é uma pessoa que aprendeu a administrar sua ira, suas emoções e se tornou violento? É algo que precisa ser observado com atenção. É importante também que junto com a catequese caminhem psicólogos, psiquiatras, médicos, pedagogos, pessoas que são capazes de ajudar nossos catequizandos a aprender atitudes de não violência. Isso é ser irmãos.
Promoção de atitudes não violentas:É fundamental divulgar artigos, criar programas, mostrar iniciativas que apresentem as buscas para se vencer a violência. Vi esses dias um comercial na televisão muito interessante, que dizia: “respeito tua religião, respeito tua raça, respeito teu grupo. Pode até não me agradar, mas eu respeito. E respeitar já é um jeito de não ser violento. Com esses três meios, a Igreja, neste tempo de Quaresma, pode ajudar a sociedade a ser menos violenta. Capaz, sim, de irar-se pelo que é mal, mas administrar a ira para que ela não seja violenta”, concluiu.
O lento e necessário processo de superação da violência
Infelizmente, no primeiro semestre de 2017, aconteceram 28 mil assassinatos no Brasil, entre homicídios dolosos, lesões corporais seguidas de morte e latrocínios, casos de roubos seguidos de morte. Os dados revelam um crescimento de 6,79% em relação ao mesmo período do ano anterior e apontam que o país pode retornar aos 60 mil casos anuais de crimes como esses.
Em outubro do ano passado, um episódio incomum de violência em Goiânia teve repercussão nacional. O fato aconteceu no Colégio Goyases, escola de ensino infantil e fundamental, do Conjunto Riveira, e resultou no assassinato por arma de fogo dos adolescentes de 13 anos de idade, João Pedro Calembo e João Vitor Gomes. Isadora de Morais, de 14 anos, ficou paraplégica.O autor do crime, um adolescente de 14 anos, que estudava na mesma sala das vítimas, hoje está em processo de ressocialização, em Anápolis.
Ainda muito abalados com a perda do filho João Vitor, Katiuscia Gomes Fernandes e o esposo Fábio Moreira Fernandes, que têm mais dois filhos, uma menina de um ano e um adolescente de 11, buscam forças em Deus para poder reconstruir a vida da família. Os questionamentos, porém, nunca cessam, e as lembranças do filho estão por toda parte. Para ela, o processo de superação da violência que sofreu é lento, de muita oração e participação na vida da comunidade, na Paróquia Santo Inácio de Loyola, no Conjunto Riviera. Padre Aurélio, afirmou Katiuscia, tem sido uma força permanente em sua direção espiritual.
Com dificuldades para falar sobre o assunto, ela disse também que sua identidade cristã, fruto de uma caminhada anterior como catequista e na Pastoral do Batismo, aliada à união da família, é que tem agregado sentido à sua vida após a perda do filho mais velho. “Foi muito difícil, mas hoje eu já consigo aceitar a partida dele, embora os questionamentos ainda continuem”. A Oração de padre Pio, que pede a permanência de Deus em todos os momentos da vida, é outra força para a mãe. “Rezo sempre esta oração porque ela diz tudo: se Deus não ficar comigo, tudo fica escuro e vazio”.
João Vitor, conforme descrição da mãe, era um jovem piedoso, de caminhada na Igreja, devoto de São Paulo, que amava a Santa Missa. “Aos sete anos de idade ele não gostava, mas eu lembro exatamente o dia do início do processo da conversão dele. Foi após um encontro de catequese que ele passou a entender o sentido da Santa Missa. Os olhos dele brilhavam tanto!”. Apesar da dor que sofre, Katiuscia disse ainda lamentar pela família do adolescente que tirou a vida do seu filho. “Não desejo essa dor para ninguém e lamento muito pela família e pelo próprio jovem. Estamos neste mundo para criar nossos filhos para a eternidade, e essa é uma missão muito difícil de cumprir. A lição que tiro de tudo isso, se é que posso chamar de lição, é que eu contribuí para meu filho ir para um bom lugar na eternidade. Por isso é importante a família participar da vida dos filhos hoje, pois, amanhã, pode não dar mais tempo”.
Fúlvio Costa
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