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06/03/2018
O que fazer diante da violência contra a mulher
O Manual da Campanha da Fraternidade deste ano nos lembra que "tudo que desrespeita um direito humano ou cria situações em que a pessoa é desvalorizada é uma forma de violência, por exemplo: preconceitos, racismo, falta de atendimento para doentes e pessoas com deficiência, tráfico de drogas, crianças sem escola e apoio familiar, falta de emprego para quem precisa trabalhar, deixar gente sem comida ou sem casa, humilhar o outro para se divertir, intolerância religiosa" (pág. 152). Em relação à mulher, são muitas as atitudes agressoras.
A conduta imoral, ilegal e injusta de ter atitudes de violência contra a mulher é fruto da ausência de uma boa formação familiar, religiosa, moral, educacional, cultural e social do agressor. Denota, principalmente, problemas no desenvolvimento da sua personalidade, que geram desequilíbrio emocional e incapacidade para lidar com as emoções, como a frustração e o egoísmo. Mulheres e filhos tornam-se, então, verdadeiros “bodes expiatórios” de toda emoção negativa vivida por ele, sendo alvos constantes de atos violentos.
Lembramos que não só os atos físicos de agressão se caracterizam como violência, mas também a humilhação, o desrespeito e o impedimento da mulher de ter uma religião ou profissão. Na visão daquele que tem o perfil de menosprezar, ameaçar e agredir para conseguir o que deseja, as pessoas ligadas a ele têm a obrigação de lhe obedecer. Não exercita o sábio caminho de ouvir e dialogar.
Quando o homem apresenta esse traço de personalidade, a conduta cristã indica que sua mulher tente ajudá-lo, propondo tratamento psicológico ou psiquiátrico, se for o caso; levando-o para o seio da Igreja e buscando a orientação da Pastoral Familiar. No entanto, se ele recusar-se definitivamente a buscar aconselhamento e tratamento para superação do problema, a mulher deve buscar ajuda de instituições ou instâncias governamentais e filantrópicas voltadas à defesa de vítimas de violência, pois cabe a ela o dever de resguardar sua vida e a de seus filhos. Isso porque, infelizmente, não é raro ocorrer de filhos serem espancados e até mortos por indivíduos em estado de fúria, muitas vezes causada pelo uso excessivo de bebidas alcoólicas e drogas.
Aos agressores
Existem instituições, muitas católicas, que trabalham pela libertação de vícios e pela reabilitação psicológica e social dos agressores que desejam mudar suas condutas. A esses irmãos, dirijo uma palavra de aconselhamento: busquem forças para pedir ajuda espiritual e profissional. Não é normal agredir. Você e sua família merecem uma vida de paz, fraternidade, amor e esperança, porque são filhos de Deus. Bebam na fonte de vida plena, que é Jesus Cristo, aceitando-o como Mestre e Senhor, e acatando Sua Palavra, que é clara sobre a conduta violenta – "Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus" (Mt 5,9) –, e sobre todo ato que prejudique os nossos irmãos e irmãs – "Tudo, portanto, quanto desejais que os outros vos façam, fazei-o, vós também, a eles" (Mt 7,12; Lc 6,31).
Mesmo que não tenhamos casos de violência em família, esse assunto precisa despertar nosso interesse e nos mover em defesa dos agredidos e pela conversão e readaptação de conduta dos agressores. Lembremos o que João Paulo II disse: "Uma sociedade é julgada pela maneira de encarar os feridos da vida, pela atitude que adota a esse respeito" (França, 1997). E hoje, quando a Igreja no Brasil adota uma campanha pela "Fraternidade e Superação da Violência", em sintonia com o nosso papa Francisco, afirmamos: “É necessário mostrar que toda vida humana tem em si mesma um caráter sagrado que merece respeito, consideração, compaixão, solidariedade...”.
Dom Washington Cruz, CP
Arcebispo Metropolitano de Goiânia
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