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19/02/2018
Com fraternidade podemos superar a violência
Iniciado na Quarta-feira de Cinzas, o tempo quaresmal é uma grande caminhada comunitária de conversão, a ser percorrida como Igreja. No mesmo dia, iniciamos a Campanha da Fraternidade 2018, com o tema "Fraternidade e superação da violência", e o lema "Vós sois todos irmãos" (Mt 23,8). Essa iniciativa da Igreja, no Brasil (coordenada pela CNBB desde 1964) e na Arquidiocese de Goiânia, não é paralela ou complementar à Quaresma. Ela deve estar no centro de nosso itinerário espiritual, de nossa oração, de nossos estudos e pregações, de nossas ações e iniciativas. Isso porque a conversão quaresmal, plena e integral, deve gerar frutos de fraternidade e paz.
"Bem-aventurados os que promovem a paz” (Mt 5,9), a fim de superar a violência. Essa é a boa notícia de Jesus, para todos os discípulos missionários e para todos os homens e mulheres que se empenham na construção de um mundo mais justo, pacífico, fraterno e solidário. Essa bem-aventurança dos promotores da paz também quer ser vivida pela Arquidiocese de Goiânia, discípula e missionária de Cristo, que se empenha com determinação, coragem e testemunho na superação de todas as formas de violência.
Pedro, guarda a tua espada!
No momento mais dramático e truculento contra Jesus ‒ quando foi encontrado e preso para ser morto na cruz ‒, Pedro teve uma reação imediata de resistência contra aquela violência. Sacou de sua arma e enfrentou aqueles que os atacavam. Embora tivesse convivido e aprendido tanto de Jesus, em sua mente e em seu coração ainda estava arraigado o método de responder com violência e com armas a um ato de agressão. “Guarda a tua espada” (Jo 18,11), disse Jesus a Pedro. Esse pedido de Cristo continua a ressoar no dia de hoje.
Guarda a tua espada, Goiânia! Guarda a tua espada, Brasil. Guarda a tua espada que dissemina violência e mentiras pelas redes sociais, que te ilude com falsas seguranças, que te transforma em ameaça a quem te chama de “meu bem”, que provoca medo a quem te chama de “meu pai”, que provoca indignação a quem te chama “meu irmão”.
Guarda a tua espada de egoísmo e arrogância contra os pobres, de racismo sobre os negros, de prepotência sobre os índios, de xenofobia sobre os migrantes, de machismo contra as mulheres, de desprezo aos jovens, de indiferença quanto aos idosos, de abusos contra crianças e adolescentes.
Espadas destroem a vida e o bem comum
Guarda a tua espada que mata pelo tráfico e pelo consumo de drogas, pelo feto eliminado do útero, pelo veneno jogado na terra, pela destruição da natureza, pelos conflitos agrários, pela disputa por água, pelo consumo do álcool, pelas agressões no trânsito, pela criminalidade. Guarda a tua espada que mata pela corrupção política e social, pelos corporativismos que destroem o bem comum, pela morosidade na aplicação das leis, pela concentração da riqueza nas mãos de poucos, por ações religiosas e esportivas contaminadas por fanatismo e intolerância.
Os cidadãos brasileiros não precisam de armas e sim de comida no prato, de escola de qualidade e de casa para morar. Os cristãos de verdade não precisam impor verdades e sim construir pontes de diálogo e caminhos de amor.
O caminho quaresmal nos pede essa profunda conversão pessoal, comunitária e social. Vamos guardar a espada que ofende a Deus, agride o irmão e destrói a nós próprios. Vamos rezar, jejuar, pedir perdão, refletir e agir. Vamos promover a superação da violência e construir a paz, porque em Cristo “somos todos irmãos”.
Dom Washington Cruz, CP
Arcebispo Metropolitano de Goiânia
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